PJ propôs a Kate "2 anos de prisão" em troca de confissão
A mãe de Madeleine, que escreveu o livro para "transmitir a verdade" e "a visão dos acontecimentos" dos pais da criança inglesa desaparecida em 2007, refere no capítulo que intitulou "No Reino da Fantasia" que a proposta da PJ visava tornar a sentença "muito mais indulgente".
Kate McCann escreve "apenas dois anos", contando que o advogado Carlos Pinto Abreu, que o casal contratou meses depois do desaparecimento da filha, lhe disse que se ela não aceitasse a proposta da PJ seria "acusada de homicídio".
No livro de 23 capítulos, Kate lembra que a sua "incredulidade transformou-se em raiva", numa altura em que juntamente com o marido, Gerry McCann, se sentiam "completamente isolados".
"Estariam realmente à espera que eu confessasse um crime que eles tinham inventado, que afirmasse falsamente perante o mundo inteiro que a minha filha estava morta quando o resultado seria que o mundo inteiro deixaria de a procurar? Aquela táctica da polícia podia ter resultado no passado, mas não ia de certeza resultar comigo. Só por cima do meu cadáver", refere a mãe de Madeleine.
Recorda que se não concordassem seriam acusados "os dois de assassínio" e arriscavam condenação "à pena máxima" em Portugal (25 anos de prisão).
Num relato amargurado, Kate confessa que o casal se sentiu "completamente isolado" e critica as autoridades britânicas, referindo que "a situação deteriorou-se ainda mais" após o Ministério Público (MP) ter constituído arguidos os pais de Madeleine, três meses depois da menina ter desaparecido do apartamento onde os pais e os irmãos passavam férias.
"A polícia do Reino Unido dizia que tinha as mãos atadas: os portugueses podiam ver qualquer 'interferência' como uma tentativa de minar a sua primazia na investigação, o que teria implicações não só neste caso, como em qualquer cooperação internacional no futuro", frisa.
Com o sentimento de traição, a mãe escreve que ela e Gerry estavam "conscientes das limitações frustrantes desta relação delicada", ainda para mais quando estavam convictos de que "a polícia britânica considerava que certos aspectos da investigação eram medíocres".
"Honestamente, não pensamos que eles acreditassem que nós estávamos envolvidos no desaparecimento da Madeleine", acentua Kate, que, no capítulo "Caso Encerrado", alude a Gonçalo Amaral, inspector da PJ que investigou o desaparecimento de Madeleine, que se reformou pouco tempo antes de o processo contra o casal McCann ter sido arquivado por falta de provas, em agosto de 2008.
"Por que motivo quereria um ex-agente da polícia convencer o mundo de que uma criança desaparecida estava morta -- sem que qualquer prova apoiasse a sua afirmação?", questiona Kate no livro, expressando "dor e raiva".
O livro "Madeleine" será comercializado em Portugal a partir de 23 de Maio.